Cinema Adolescente... 20 Anos que Parecem Ontem!

Parece que só faz alguns minutos que, pra variar cheguei atrasada, e entrei por aquela porta escura que me revelava com discrição, uma sala lotada de jovens em plena tarde de quarta babando pelo maldoso Sebastian que aliado a sua irmã / filha do padastro, Kathryn jogava com a vida de todos, principalmente com a da inocente Annette.

Inacreditável como o tempo passou e o gênero adolescente sofreu tantas mutações que se pararmos pra pensar, atualmente esse tipo de filme não é quase nada do que eram antigamente.
Claro, a herança persiste, mas estava assistindo Prova Final de 1998, com um Elijah Wood que não fazia noção que viria a ser Frodo Bolseiro um dia, e me deparei com coisas que hoje seriam imperdoáveis no mundo adolescente. Eu não deixei de amar essas histórias que fazem parte da minha fase juvenil, porém é meio louco pensar que a atriz Jordana Brewster, de real descendência brasileira, famosa pela franquia Velozes e Furiosos, participa de uma cena em que conta com vergonha que vem do Brasil e é zoada por isso, do mesmo modo que piadinhas racistas, sexistas e bullying correm solto durante todo o filme.
Mais louco ainda é que o pessoal tinha que inalar drogas o tempo todo pra provar que não eram afetados pelos tais alienígenas que estavam possuindo todo mundo. Películas assim não eram exceção, visto que, no início dos anos 2000, adolescente, quando não estava sofrendo de amor ou vivendo uma disputa, estava num grupo de amigos duvidosos sendo morto ou pairando de vítima de um mascarado. Acometido das tais regras básicas do gênero terror juvenil. Mais precisamente, franquia Pânico de 1996 e outros tantos que vieram depois, como Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado.
- Você não vai sobreviver se fizer sexo;
- Acredite quando gritarem a frase: - Atrás de você!;
- Nunca dê as costas para alguém;
- Você não vai sobreviver se beber ou usar drogas;
- Você não vai sobreviver se falar a frase: - Volto já!;
- Todo mundo é suspeito;
- Você não vai sobreviver se perguntar: - Quem está aí?;
- Você não vai sobreviver se sair para investigar um barulho estranho;

E se há uma coisa que esses filmes respeitavam eram os esteriótipos. Você sempre encontrava nessas histórias os caras babacas do time de futebol americano, o líder e outros idiotas balançando a cabeça atrás, o mesmo fato geralmente com 3 líderes de torcida que se achavam boas demais, enquanto apenas uma dominava as outras e humilhava a mocinha ou mocinho inocente, no caso dos jogadores. Também podíamos sempre contar com elementos clichês, como finais mágicos que terminavam com a viagem para a escola de arte em Paris sendo interrompida pelo cara babaca, que no decorrer do filme, deixava de ser pra descobrir suas verdadeiras motivações. Além da descolada, o esquisito, a grunge, o diretor idiota, os melhores amigos desinteressados, estranhos e geralmente de outra etnia, os pais alienados, os garotos espertinhos, uma escola de sei lá o quê e mais alguns elementos característicos.
Um bom filme pra comprovar esses artifícios que levavam a galera teen ao cinema, é a paródia Não é Mais um Besteirol Americano e se quiser tem o adendo Uma Comédia Nada Romântica, que também flutua nesse campo.

Aí, as luzes se ascendiam e um turbilhão de adolescentes se levantava zoando, comentando e alguns chorando enquanto os créditos subiam. Acompanhados pela trilha sonora de uma banda de sucesso pra deixarmos o cinema, descobrindo um shopping lotado de outros jovens que viram filmes, hoje considerados modestos e sem efeito algum, mas que naquela época lotavam as salas e faziam a galera esperar ansiosa pela próxima quarta - dia mais barato - perambulando por aí com novas histórias, sonhos e esperanças na cabeça. Foi assim que cresci num piscar de olhos, e embora pareçam estranhos, serão os filmes que sempre amaremos. Os filmes da juventude!
Recordando, acho que o primeiro filme adolescente de que tenho conhecimento é American Graffiti - Loucuras de Verão de 1973, que contava até com um Harrison Ford caipirão. Depois vieram Porkys, a era dos clássicos como Sexta Feira 13, criações de John Hughes, entre outros.
Porém, na primeira metade dos anos 90, o gênero deu uma sumida pra prestigiar a fase seguinte, a universidade, criando grandes histórias como Com Mérito e Sociedade dos Poetas Mortos, voltando com força somente no final da década.
Os personagens são representados por atores com idades próximas e não há mais tanta preocupação em mostrar aqueles seres lindos e perfeitos, porém rasos de antes. O bullyng não tem mais graça e as turmas populares são feitas de jovens que buscam se encontrar. As histórias são diversificadas e saem da casinha pra mostrar dramas e alegrias. Um filme que brinca muito com isso é Anjos da Lei, onde ao voltarem pra escola, os personagens se deparam com novos conceitos, apenas anos depois de deixá-la.
Enfim, não é perfeito, mas é um caminho. Visto que antigamente, as películas eram legais, mais ainda assim apenas divertiam, trazendo quando muito, mensagens superficiais. Porém, deixavam o pessoal que assistia com muitas estranhezas em relação a trama e personagens. Felizmente, o desconforto passado é algo que ninguém precisa suportar mais.