sexta-feira, 3 de janeiro de 2014


Ela veste preto, mas o baile é em Paris. Cap. 04


“Dizem que são doloridas as feridas adquiridas numa luta. Porém, tornam-se ainda mais incuráveis se vierem de um ringue de amor.”


Diário da Viagem de Dora. (D.D).



Horas depois, no hotel...
– Alonso, amor... Me desculpe! Não queria causar toda aquela confusão! – diz Dora ainda limpando-se do café da manhã impregnado nela.
– Eu só te pedi uma coisa... Te pedi pra convencer minha mãe do contrário a respeito de você ser uma grosseirona e o que você faz? Exatamente o oposto! – fala Alonso furioso andado e suando por todo o quarto.
– Me perdoa... Não tive culpa, as coisas fugiram ao meu controle! – justifica a namorada arrasada. – Achei que estava sendo perseguida... Dois sujeitos...
– Já devia estar acostumado... Com você é sempre assim, Dora! Quando vamos ter paz pra seguirmos nossas vidas? – pergunta o rapaz entregue diante da menina. – Você simplesmente não consegue deixar o passado onde ele devia estar! Vive trazendo aqueles dois pras nossas conversas como se estivéssemos num quatrilho... David e Paris morreram em New Park, mas você não consegue aceitar isso! – grita magoado.
– Não é verdade! Tudo o que mais queria no mundo é esquecer que um dia aqueles trastes atravessaram meu caminho, mas tô cada vez mais convencida que ainda não acabou... Como ia dizendo, dois caras apareceram no biombo de encontros, cada um na sua vez e foram estranhos... Até aí tudo ok se não fosse pelo bilhete! – explica confusa esticando as mãos trêmulas.
– Que caras e que bilhete? Garota que maluquice é essa? – quis saber o moço inconformado.
– Este papelzinho aqui... Você se lembra? Vermelho, quadradinho com uma mensagem enigmática idiota e assinatura de uma letra só... R. – sussurra derrotada pela possibilidade do pesadelo ter voltado.

Música – Twin Forks – Back to You – De Volta pra Você

Eu era jovem, então esqueci
Qual era o meu lugar e qual não era
Pensei que tinha uma boa chance
E tentei a sorte.

Olhe para frente, olhe para trás
Pegue outra, eu não me importo.

– Dora... Isso não pode ser! Você não vê que estão brincando com você... Se aproveitando! Alguém que sabe da história e não quer que o nosso amor dê certo! – explica Alonso segurando firme nos braços da namorada para trazê-la a luz.
– Quem? E por quê?
– Tem tanta gente... A Sofi, aquela é capaz de tudo! Minha mãe, que Deus me perdoe se não foi! Os jornalistas! Sim, porque vamos combinar que não foi bonito o que você aprontou... Os tabloides semanais agora vão durar pelo menos um mês! “A gata borralheira que deu errado.” Fotos de todos os ângulos do traje bicolor...
– Essa gente ordinária me humilha desse jeito e você acha que a culpa é minha? – indaga a menina sentindo-se insultada.
– Você é a futura rainha da Baviera! Acredite... Isso foi pouco diante de tudo o que pretendem pra nos separar! Dora se quiser ficar comigo precisa ser forte e observar o perigo vindo de todos os lados! Você é minha garota linda, mas agora preciso que lute por nós! – dita Alonso transtornado.

Sigo as indicações de volta para você
De volta para você, de volta para você
Eu sei seus ares de volta para você
De volta para você

Então, coloque um ramalhete no cabelo
Finja que você não poderia se importar
Apito passado, o cemitério
Mesmo os mortos merecem uma canção


– Engraçado... Falando assim você ficou igualzinho ao David... – cochicha a moça se soltando com estranheza do namorado. – Só falta agora me pedir em casamento e planejar meus passos pelos próximos mil anos! Mesmo enterrados em New Park a sensação de terror continua e nesse caso nem posso me queixar deles... Ao invés disso me pergunto o que está acontecendo com o herói marrento que não queria saber de nada dessas coisas de príncipe? – termina deixando as lágrimas rolarem.
Após um tempo em silêncio, Alonso sai de frente da janela disposto a retomar a discussão.
– Você está certa... Certíssima sobre tudo! Você conheceu um torrão metido no meio da rua que devia te seguir, mas que te adorou tanto naquele instante que mandou sua mãe para o diabo e jurou devoção a você na mesma hora! Depois o que aconteceu com ele? Virou um príncipe mequetrefe que obedece a ordens e desaponta a pessoa que mais ama... Patético! – conclui o garoto balançando a cabeça em desaprovação. – Me perdoa? – pergunta de mansinho arrependido.

Deixe a lua fazer o que ela faz
Ela não precisa fazer um rebuliço
Ela não sabe que ela brilha para nós
Algo me diz que ela não sabe

Sigo os sinais de volta para você
De volta para você, de volta para você
Eu sei seus ares de volta para você
De volta para você, de volta para você
Vez após vez, sigo as indicações
Eu sei seus ares de volta para você


– Não sei... Não posso... Acho que não devo! – diz Dora ainda no estado esquisito de anteriormente.
– Foi só um deslize! Mas nós superaremos... Fases acontecem num relacionamento! – justifica o príncipe se aproximando da namorada que se afasta.
– Acho melhor você ir! – cochicha hipnotizada por seus próprios pensamentos.
O rapaz assustado acata o pedido se afastando dela com amargura, deixando marcas de amassado no lençol da cama lembrando de que um final triste ocorreu.
– Adeus! – deseja vendo-o atravessar a porta.
No mesmo instante Mell vinha chegando.
– O que aconteceu sua doida? Pelo estado de vocês dois posso supor que você entregou o jogo pra mãe dele e a vadia da Sofi! – fala a garota odiando a amiga.
– Acabou Mell... – resume arrasada.
– Gente, o amoreco de vocês pode ser tudo menos monótono! Deviam alugar como atração num parque de diversões com slogan do tipo “Alondora – A aventura que nunca acaba.” – brinca a garota abraçando e beijando a amiga na tentativa de suavizar a dor.
Alonso atravessou a porta vagando sem destino pelo corredor. Os momentos tristes e felizes que passou nos últimos meses com aquela crazy lady independente corriam as paredes feito slides.
Estava magoado, ferido, mortificado... Queria deixar tudo para lá. Desligar os sentimentos e realmente faria se pudesse, mas o que sentia por Dora era tão forte que preferia sofrer a ignorar que tinha amor por aquela garota. 

Amor, abaixe os olhos
Deixe-me um sinal


Mal se percebeu na sala do apartamento onde estava hospedado, Dona Corália veio interrogá-lo.
– Alonso, querido! Onde você estava? Depois de todo aquele vexame fiquei preocupada... Bom, pelo menos agora você já sabe de que laia é aquela garota horrenda! – diz sem tempo para respiração.
– O quê? Mas que falta de respeito! O que aconteceu com a senhora... Onde está sua sensibilidade? – pergunta o filho enojado com a atitude da mãe.
– Ah, filho! Depois de como sua amiga se comportou não merece a mínima consideração! – dita sem arrependimento. – A propósito, vamos partir essa noite! – anuncia vitoriosa.
– Eu não vou! – grita enfático.
– Não sou eu que estou pedindo, mas seu tio, provavelmente ele viu um destes pasquins nojentos e agora quer explicações... É evidente, sua adorada Dora é uma causa perdida! Nos contaminou com a má sorte dela! – dispara Dona Corália sem papas na língua. – Precisamos nos salvar antes que seja tarde! – termina venenosa.
– Para! Eu não acredito... Como você se tornou isso... Quando? E o papai, coitado, morto por dentro! Vocês é que são uma vergonha! – defende Alonso choroso.
– Seu futuro está em jogo! Foi por ele que me tornei superprotetora, mais seletiva e até um pouco cruel perante a vida, mas é tudo pra te proteger dos perigos que um herdeiro ao trono enfrenta... – justificou a mãe tentando lhe fazer um carinho.
– Não adianta nem começar... Já sei desse papo de cor. Não vou deixar uma vida que eu gosto só pra você se sentir melhor com a sua... – respondeu Alonso relutante a chantagem da mãe.
 – Por favor! Vamos agora à noite... Você explica toda a situação e depois volta! Lavo minhas mãos depois disso... Você faz o que quiser da sua vida, mas antes me dê esse pequeno gosto... Se não por mim, por gratidão a tudo que seu tio nos ajudou esses anos todos! – implora Dona Corália esperando marcar pontos.
– Ham! Está bem! Preciso de ar mesmo... A viajem vai nos dar um tempo! – conclui o filho achando que seria melhor assim.
Um pouco depois, lá estavam eles correndo pelo Charles de Gaulle para não perder o voo que separaria definitivamente um romance que poderia ter dado certo. De repente, Sofi é puxada para um canto com violência encontrando uma parede.
– Fugindo do país... Aposto que nem pagou o aluguel! Que feio... – debocha Leo a encurralando.
– O que você quer? Ainda não entendeu que eu só estava brincando? Foi mal, supere e prossiga... Se um dia voltar à cidade a gente se encontra pra relembrar os melhores momentos! – diz a condessa se aninhando ao detetive.
– Você pensa que me engana com esse teatrinho de mulher fatal desalmada, mas eu sei que nem tudo o que vivemos foi mentira! – grita o rapaz devolvendo-a a parede.
– Assim falou o detetive que se deixou enganar pela primeira que demostrou interesse! Dói não ser o escolhido, ser sempre a vela... A segunda opção! – acusa a moça desarmada com as vistas molhadas se desvencilhando para seguir viajem.
– Ainda não acabou! Você vai ver que eu tô certo... Vou provar que você é como aqueles que mentem pra si mesmos e interpretam até descobrirem que a atuação é mera realidade! Não é a toa que me chamam do melhor de New Park! – berra o detetive tentando impedi-la, mas a vendo partir.
– Você tentou, mas essa daí é máquina perdida... Não existe peça que possa consertá-la! – consola Romeo colocando a mão no ombro de Leo, que ri amargamente para o horizonte acompanhando o amigo até o táxi.
Enquanto Alonso atravessava as plataformas, mulheres se transformavam perante seus olhos se contorcendo até ganhar formas que ele conhecia com paixão. Os anúncios revelavam-lhe segredos que o subconsciente mostrava distorcido, sufocando-o com menosprezo e punição por abandonar a felicidade tão covardemente.
Tentou aguentar a sensação agonizante até que explodiu.
– Não... Não posso! – sussurrou aliviado. – Se for vou perdê-la! – gritou destroçado.
– Alonso, querido! Nós já conversamos... – insiste a mãe dissimulada.
– Desculpe, mas não dá! – fala choroso dando meia volta para retornar o caminho.
Dona Corália queria impedir, mas foi impedida pelo pai que a segurou com a firmeza que lhe restava.
– Bem, as coleções de inverno começam na próxima semana mesmo, então será proveitoso se eu ficar! – insinua Sofi indo atrás de Alonso.
– O traga de volta! Não importa como... Faça o que tiver que fazer! – dita Dona Corália segurando nas mãos da condessa.
– Será mais que uma obrigação, será um prazer! – cochicha a moça especialmente para os ouvidos da mulher de mesma laia.
Minutos depois, Alonso aparecia estropiado na frente do hotel.
– O senhor vai ficar nesse hotel? Não sei não...  Dizem que o pessoal daí é meio baderneiro! – grita Dora do outro lado da rua encostada a mureta.
– É… E como você sabe? Já estava hospedado e adorei, mas não poderia ir sem resolver pendências com uma pessoa muito especial! Só não sei se ela me perdoaria...
– Quem sabe... Você pode tentar, vai que ela aceita! – desdenha a namorada.
O príncipe atravessou para o lado dela respirando fundo, sabendo que tomou a decisão certa.
– Oh, Dora! Eu te amo tanto... Me desculpa! Por que a gente briga tanto... Eles não podem ter esse gostinho, garota! – fala compulsivo a abraçando em giros na calçada.
– Tá tudo bem! Me desculpa também... Sou muito impulsiva e abandonar o passado pra mim é praticamente como viver em abstinência, mas eu vou tentar! – interrompe retribuindo os beijos e carinhos.
– Vamos nos ajudar... Nos perdoar... Vamos dar certo! Nada mais vai nos atrapalhar! – promete Alonso desesperado quando é interrompido.
– E aí Isadora Dora! Bochechão! – cumprimenta a voz sorridente esquecida na memória da menina.
– Você... O que tá fazendo aqui? – admira-se pensando se aquilo era bom ou mal.

Siga as indicações de volta para você
De volta para você, de volta para você
Eu sei seus ares de volta para você
De volta para você, de volta para você
Confio nos sinais para encontrar o meu caminho de volta para você
De volta para você, de volta para você
Sigo as indicações de volta para você

          Música do Episódio:

                                                       
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