Quinto Capítulo - Ela Veste Preto
Ela veste preto, mas o
baile é em Paris. Cap. 05
“Tem
gente que acha que o coração é feito de um diamante rústico e caro... De
repente se enganou, era vidro e se quebrou! O que então sobrou no lugar?”
Diário da Viagem de Dora. (D.D).
Três semanas antes...
– Me desculpe! Estava tão distraído que nem notei
um anjo a minha volta! – diz Leo educadamente com segundas intenções após
esbarrar numa garota.
– Não... Tudo bem! Desculpe-me você por estar
voando sem rumo por aí! – devolve a moça sorrindo de boca serrada.
– E o que te trouxe a esse mercado de pulgas em
plena Paris? Nas lojas granfinas com certeza deve haver algo mais apropriado pra
suas belas asas! – fala sentindo-se campeão nas cantadas clichês.
– Essas asas imaginárias não podem pagar nem o
aluguel quem dirá seda! Estou mais para um candelabro mesmo...
– Viagem de família ou amigos?
– Amigos... Casaizinhos apaixonados que não se
desgrudam o dia inteiro e que te chamaram pra estepe se algo der errado, eles
brigarem ou se entediarem!
– O resto do tempo você se torna invisível... Sei
bem como é! – termina o detetive familiarizado com a situação.
Música – Rihanna
– What Now – E agora?
Eu estive ignorando este nó grande na minha garganta
Eu não devia estar chorando, lágrimas são para os fracos
Nos dias que sou mais forte, "e daí", é o que digo
Isso é algo que falta
O que quer que seja, parece que está rindo de mim
Através do vidro de um espelho de duas faces
O que quer que seja, está rindo de mim
E eu só quero gritar
– Parece que estamos no lugar certo então! Quem
sabe alguma senhora não nos leva para enfeitar sua mesa de confeitos! – debocha
a moça.
– Candelabros estrangeiros… Não sei, acho que ela
vai preferir os nacionais!
– Você é importado de onde, companheiro? – quis
saber a menina curiosa.
– De New Park e você?
– Do mundo todo... Um pouco daqui a outro instante
dali! Vá saber... Vamos manter assim... Digamos que a Europa é meu lar! – responde
sexy e misteriosa.
– Entendi! Não quer revelar tudo no primeiro
encontro... Pra manter certo charme! – diz Leo interessado.
– Isso é um encontro? Porque se for é exatamente o
que estou fazendo! – justifica dando piruetas no calçadão do mercado.
– O mais inesperado e inusitado de todos os tempos!
– responde o rapaz a agarrando pelo antebraço para trazê-la de surpresa ao seu
encontro.
As respirações se enfrentaram cara a cara deixando
ambos a centímetros de um primeiro beijo tão repentino quanto o encontro.
E agora?
Eu apenas não consigo entender
E agora?
Eu acho que eu vou esperar
E agora?
Ooh
E agora?
Eu encontrei o escolhido, ele mudou minha vida
Mas fui eu que mudei
E aconteceu de ele chegar no momento certo
Eu devia estar apaixonada
Mas eu não estou roubando
– Pode me soltar, por favor? Acho que consigo me
manter no chão sem a sua ajuda! – inquire a menina recuando.
– Me desculpe de novo! Acho que é minha sina me
desculpar com você! – pede o detetive encabulado.
– Tá! Mas agora tenho que ir... Meus amigos podem
ter lembrado que eu existo e estão preocupados porque não disse aonde ia. –
explica se afastando.
– Vamos nos encontrar aqui amanhã? – convida o
garoto entusiasmado.
– Claro! – responde a moça já longe.
– Como você se chama? – pergunta Leo curioso com o
nome do anjo.
– Adele! – grita com toda força fazendo apenas um
sussurro chegar aos ouvidos dele.
Minutos depois, ao chegar numa esquina, Adele
retirou o celular da bolsa, discou alguns números e deixou tocar até que
atendessem.
– Eu consegui!
Só faltou ele se jogar em mim... Teve uma hora que achei que ia implorar. Fica
comigo... Me faz companhia! Patético! É tão fácil que chega a dar vergonha!
Pode deixar! Logo os pombinhos serão lembranças lamentáveis! Mal posso esperar
o dia em que vocês chegarão pra acabar com a festa da patricinha decadente! Vou
descobrir tudo o que precisamos nem que pra isso Leo Turner tenha que viver a
história de amor da sua vida! – promete a menina para a pessoa do outro lado da
linha.
– Cuidado em brincar com os sentimentos! Você pode
mergulhar neles achando que aguenta a maré até ver que perdeu o controle e se
afoga! – aconselha a voz passando tom de experiência no assunto.
– Eu sei me cuidar! O amor pra mim é só uma
desculpa para os fracos justificarem suas falhas! – desdenha a garota sem
hesitar.
O que quer que seja, parece que está rindo de mim
Através do vidro de um espelho de duas faces
O que quer que seja, está apenas sentado rindo de mim
E eu só quero gritar
E agora?
Eu apenas não consigo entender
E agora?
Eu acho que eu vou esperar
E agora?
Por favor, me diga
E agora?
Logo, Leo chegava apressado ao hotel totalmente
renovado com a vida. Havia feito a pazes com Paris pensando que finalmente iria
curtir a viagem. Saiu do elevador animado dando de cara com Romeo.
– Cara! Onde você estava? Todo mundo tá te
procurando pra jantar! – pergunta preocupado.
– Vivendo! Apenas vivendo... – responde o jovem aéreo
indo para o quarto.
– Você é quem sabe! Só avisa da próxima vez pra
gente não ficar preocupado! – pede Romeo sem ser notado.
Durante os dias que se passaram o detetive sumiu de
vista dos companheiros de viagem. Sempre ausente nos encontros secretos com
quem ele chamava de pessoa, fazendo-os duvidar do sexo e dos assuntos que teria
com a tal criatura.
Encontrando ocasionalmente a turma pelos
corredores, mas desvencilhando-se rapidamente em busca do objetivo dos últimos
tempos.
Era mais que paixão, um fascínio louco e inebriante
de devoção tomava conta de sua mente, deixando-o esquecer de tudo que aprendeu
para abrir espaço apenas aos trejeitos e casos de Adele. Seus desejos eram
prioridade, assim Paris transformou-se num sonho doido de proporções infinitas
para o casal secreto recém-saído das páginas de um folhetim policial.
As coisas iam bem, a não ser pelo fato de Leo ter
contado absolutamente tudo sobre sua vida à Adele, mas Adele não ter contado
absolutamente nada da sua a Leo.
Certa manhã, o detetive marcou um encontro
definitivo para esclarecer o que estava acontecendo entre eles. Uma verdadeira
discussão da relação precisava acontecer para que soubesse que não estava sendo
usado por uma pilantrinha europeia. Precisava saber que não amava à toa seus
cabelos balançando ao vento, o sorriso sem sentido no meio de uma conversa
muito séria, seus pulos e rodopios no meio da rua expressando felicidade e
principalmente o jeito inocente quase infantil com que ela levava a vida.
Não há ninguém para ligar, porque
Eu só estou brincando com todos
Quanto mais estou feliz, mais me sinto só
Porque eu passo todas as horas apenas levando as coisas
Eu nem mesmo posso fazer as emoções saírem
Seca como uma bomba, mas eu só quero gritar
E agora?
Eu apenas não consigo entender
E agora?
Eu acho que eu vou esperar
E agora?
Alguém me diga
E
agora?
– Bom dia, querida! – cumprimenta seco.
– Nossa! Que sério! Bom dia pra você também,
amorzinho! – responde fazendo graça.
– Precisamos conversar sobre o que está acontece
conosco!
– O que você quer saber? Mas vamos logo que tenho
um compromisso daqui a pouco! – dita apressada.
– Um compromisso... Posso ir junto? – indaga Leo
esperando ser convidado.
– Definitivamente não! É coisa chata... Trabalho...
Lembra? Preciso dessas coisas para o aluguel! Essa vida nômade difícil que
levo! – justifica.
– Entendo! Mais um dos seus mistérios que, se depender
de você, jamais descobrirei! E olha que sou detetive... – confessa desapontado.
– Olha! Vai por mim! Há coisas na vida que é melhor
não sabermos. Pode machucar tanto que talvez nem possamos suportar! – adverte
afastando-se como sempre.
– Espera! Aonde você vai? Nós nem conversamos! –
grita o rapaz dessa vez indo atrás.
– Fica pra depois! Tô muito atrasada! – berra de
volta.
– Não! Se você tá tão atrasada assim te acompanho
num táxi! – diz encaminhando-a para o veículo.
– Não precisa...
– Faço questão, amorzinho! – termina o garoto
irônico.
Nem perceberam que do outro lado da rua Romeo
assistia a cena chocado ao descobrir quem era a pessoa com quem Leo se
encontrava.
– Aqui já tá bom... Pode parar! – grita Adele ao
taxista.
A moça desceu sendo perseguida por Leo, mas logo
foi impedido por ela.
– O que você tá fazendo? Parece maluco! Se soubesse
que ia ser assim...
– Hoje descubro tudo sobre a sua vida! – berra
descontrolado.
Ela começou a gritar chamando a atenção de todos
que estavam próximos formando uma grande confusão. Homens vieram e seguraram o
moço que supostamente iria agredir a namorada para que ela pudesse fugir. Assim
Adele sumiu no meio do tumulto.
Horas depois, o inevitável aconteceu e Leo descobriu
da maneira mais ordinária a verdadeira identidade de Adele. Sofi, a Condessa de
Ordália, uma desgraçada cujo ele odiava tudo, da curvatura do rosto até os
dedos mindinhos do pé, a aproveitadora vigarista que quebrou seu coração
deixando poeira e vazio no lugar. Alguém que não valia nada, indigna de
confiança e atenção de quem quer que fosse.
Logo que Sofi pôde sair da confusão, ligou para a
pessoa a quem passava informações.
– Está feito! Ele sabe... Todos sabem! Mas não
precisamos mais dele, já sabemos tudo o que é preciso. Façam as malas e venham
me encontrar! Vou ficar esperando... Adeus! – sussurra no celular umedecendo os
olhos assim que desligou ao ver uma foto que tirou junto com Leo.
No painel seguiam as opções apagar e cancelar. Lá
ficaram esperando a decisão da garota que surpreendentemente parecia não estar
perdida por completo.
Eu não sei para onde ir
Eu não sei o que sentir
Eu não sei como chorar
Eu não sei por quê
Eu não sei para onde ir
Eu não sei o que sentir
Eu não sei como chorar
Eu não sei por quê
Eu não sei para onde ir
Eu não sei o que sentir
Eu não sei como chorar
Eu não sei por quê
E agora?
Música do Episódio: