terça-feira, 3 de dezembro de 2013


Ela veste preto, mas o baile é em Paris. Cap. 01


“Quando pensamos que nossos fantasmas se foram e tudo está bem, o mundo chacoalha de novo e leva a segurança recém-conquistada para deixar de consolo a velha Paris.”

Diário da Viagem de Dora. (D.D).





– Dora! Dora! Acorda meu amor!
– Ai... Já? Me deixa dormir mais um pouquinho...
– Claro! Como você quiser, mas não reclama se eu desaparecer de repente!
– Como assim? Você vai sair? Ainda é tão cedo...
– Ah! Você sabe que não é assim que as coisas funcionam... É bom saber que mesmo morto você ainda pensa em mim! Obrigado!
– O quê? Do quê você tá falando, Alonso? – pergunta Dora se virando na cama para o lado do parceiro e dando de cara com David.
– Oi, docinho! – cumprimenta o rapaz com sorriso brincalhão e malícia no olhar fixo ao dela.
– Ahhhhh! – grita a garota perdida no impossível.
– Dora! Dora! Acorda meu amor! Tá tudo bem... Foi só um pesadelo! – diz o namorado tentando acordá-la. – A gente tá em Paris, lembra? O pessoal veio pra cá pra se divertir nas férias... Eu te amo... Vai dar tudo certo! – consola a acariciando.
– Isso acontece todo dia! Como você consegue aguentar essas minhas maluquices de sonhos? – pergunta Dora abraçada a Alonso no meio da cama.
– Não se preocupe! É a nossa versão bizarra de “Como se fosse a primeira vez.” – responde dando-lhe um beijo de bom dia.
– Só você mesmo...
– Nada supera a dondoquinha mimada que conheci certa vez! Ela me fez carregar a mesa mármore dela pela rua depois de me torturar...
– Garota esperta essa... Bem feito pra você por pagar de macho alfa! Gostaria de conhecê-la...
– Um dia te apresento... Mas pode ser perigoso! Vai que vocês se entendem e resolvem se unir pra me castigar! – fala o rapaz jogando um travesseiro felpudo na menina.
– É exatamente o que vou fazer... – reprende Dora devolvendo do mesmo jeito o travesseiro.
– Sua boba! Se vista e vamos cuidar das nossas crianças grandes! Depois da viajem o combinado é entregar Paris inteira e com eles não dá pra garantir nada! – diz irônico abrindo rápida a janela preenchida pelo sol.
– A isso lá é verdade! – devolve rindo para terminarem com mais beijos quentes a manhã.
Voltariam para a cama se fosse possível, mas Alonso havia prometido na noite anterior um passeio romântico que levaria o dia todo. Logo, o terror passado estaria esquecido definitivamente e suas vidas seguiriam em paz.
Só que não...

Música – Foy Vance – Be the Song – Seja a Canção

Quando pesadelos vêm
Te manter acordada
Baby feche seus olhos
Vou levar o peso
Se eu for falar
Vou abster-me e ser a canção
Apenas ser a canção


Meia hora depois, se encontravam no saguão do hotel com os companheiros de viajem para o roteiro do dia.
– Nossa! Até que enfim... Bom saber que vocês sobreviveram a essa noite! Depois dos acontecimentos dos últimos tempos qualquer atraso faz pensar que tudo é possível! – grita Mell irada por ter ficado esperando.
– Mell, paciência! Olha o que você tá falando... Viemos pra esquecer e você fica falando sobre esse assunto logo que surge uma oportunidade! – repreende Romeo a namorada afoita.
– Desculpe! É que ainda estou em fase de tratamento! – defende-se a garota chorosa.
– Tá! Vamos de uma vez! Eu tenho uma coisa importante pra fazer! – grita Leo impaciente com a lengalenga.
– Sei... Você vai encontrar a garota! – diz Alonso.
– Ou garoto... – brinca Romeu.
– Vou sim encontrar uma pessoa com a maturidade que vocês não têm pra compreender a profundidade dessa cidade! – rebate o detetive contrariado.
– Vai logo! Não tá mais aqui quem falou... Bom encontro secreto! – deseja Romeo. – Um dia vou seguir esse cara pra ver com quem ele bate perna por aí! – diz o garoto desconfiado vendo o amigo se afastar apressado.
– Hoje vamos até o metrô apenas, depois é cada casal a sua maneira. Preciso de um tempo com essa moça teimosa! – explica Alonso apertando Dora que sai desnorteada seguindo dianteira com Mell.

Quando cicatrizes interiores
Aparecerem no seu rosto
E a escuridão esconder
Seu senso de lugar
Bem, eu não vou falar
Vou abster-me e ser a canção
Apenas ser a canção

– Tá difícil de esquecer, né? – pergunta Mell apoiando a amiga.
– Eu tô tentando, mas é tão difícil... Como se estivesse sendo observada, testada e todo aquele pesadelo fosse recomeçar de repente! Talvez ele não compreenda... – responde Dora segurando a mão da outra.
Alonso e Romeo seguem atrás vendo os gestos das garotas.
No metrô se separam para que Alonso e Dora caminhem pelas vielas douradas da cidade luz. Passando pelos cafés, vendo as pessoas vivendo suas vidas simples, sentindo o tempo passar sem preocupação nem desespero do que os ameaçava.
À noitinha tomaram um barco que desceu o rio Sena passando pelas pontes que desenhavam o local mais encantador do velho mundo. O jantar foi servido com música e conversas descontraídas, o céu acima de suas cabeças e água para abençoar o amor que sentiam.

Flua abaixo todos os meus montes
Querida, encha meus vales
Flua abaixo todos os meus montes
Querida, encha meus vales
Flua abaixo todos os meus montes
Querida, encha meus vales

– Tenho sido uma péssima companhia! Me desculpe! – solta a menina segurando as mãos de Alonso sob a mesa.
– Não, tá tudo bem! Eu também tenho me comportado como um louco! Enquanto você tenta superar o que aconteceu, eu banco o forte fingindo que não houve nada! – defendeu o rapaz.
– Cada um tem seu jeito de seguir adiante... E se alguém tem razão aqui é você! Não podemos viver assim pra sempre, zumbis traumatizados pensando em caras que não valem a pena! – justificou Dora.
– Hei! Fale por você... Eu não penso em cara nenhum! – diz Alonso irônico.

E quando você correr
Pra longe dos meus olhos
Então eu virei
Na calada da noite
Mas eu não vou falar
Até luz manhã
Eu vou ser a canção,
Apenas ser a canção.


Assim, dançaram a noite toda contemplando as estrelas e animando qualquer um que estava em volta. O amor valia a pena não importava como havia começado. Bastava que fosse único particular e era deles.
– Eu deixo tudo de lado se você deixar! Te amo muito e que se dane o resto! – grita a garota sorridente ganhando o apoio e palmas de quem estava ao redor.
– Claro que sim! Você tem a minha cumplicidade pra sempre... Danem-se os problemas! – berra Alonso respondendo a confissão com o mesmo entusiasmo.
– Senhor Alonso... Futuro rei da Baviera! Vossa majestade daria a honra de se casar com essa humilde plebeia? – pergunta a moça impulsiva ajoelhada ao chão fazendo reverência. – Anda! Vamos agora mesmo... Enquanto temos tempo, coragem e somos jovens! Vamos enquanto não vem o arrependimento! – esbraveja acompanhada dos que assistiam a cena.
– Amor, aqui é Paris! Não Las Vegas! – argumenta o moço comedido de vergonha.
– Tenho certeza que tem algum cristão nessa cidade capaz de casar dois filhos de Deus! – explica Dora um pouco tonta.
– Tá! Se você quer tanto... Mas amanhã não adianta vir com a desculpa de que estava bêbada!  Vamos voltar ao hotel para vestirmos algo melhor que moletom!
Ambos correram pelas ruas espelhadas, rindo como se tivessem raptado a felicidade exclusivamente para si até chegarem ao hotel. Na entrada o recepcionista tentou dizer algo, mas foi ignorado assim como qualquer um que estivesse no caminho. A chave tornou-se insignificante e foi girada instantaneamente, porém quando se abriu a passagem e a escuridão foi cortada, uma armadilha disfarçada de surpresa se revelou imediata.
– Olá, filho! Espero não estarmos atrapalhando! – diz a mulher irônica sentada na poltrona ao lado do marido.
– Mãe, pai! – fala Alonso espantado. – O quê vocês estão fazendo aqui?
– Ora! Você estava tão pertinho de casa... Eu não podia perder essa oportunidade de ver como estava e ter a desculpa pra vir a Paris! Já que você não se digna a ir até à Baviera! – explica sem parar nem dar a oportunidade de mudarem o rumo da conversa.
Dora estava congelada na porta pensando lentamente em como tinha falta de sorte. Quando finalmente resolvia dar um passo definitivo em sua vida algo inesperado a impedia, já havia acontecido outra vez.
 – Mãe, me deixa falar! Você não pode ficar aqui... Estávamos indo fazer uma coisa importante e... – justifica o rapaz quando Corália novamente o interrompeu.
– Ah! Já ia me esquecendo... Não viemos sozinhos... Querida pode vir, ele apareceu! – grita a senhora chamando a pessoa que estava no toilette.
Uma garota morena, linda de olhos verdes enormes surgiu virando a maçaneta até dar na sala principal da suíte.
– E aí, Alonso! Quanto tempo, amorzinho! – cumprimenta destilando ousadia no sorriso e no olhar.
– Sofi... Ah, não! – responde Alonso sussurrando.

Flua abaixo todos os meus montes
Querida, encha meus vales
Flua abaixo todos os meus montes
Querida, encha meus vales
Flua abaixo todos os meus montes
Querida, encha meus vales


Música do Episódio: 



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